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terça-feira, fevereiro 17, 2004

LEI DE TRANSGÊNICOS PREOCUPA CIENTISTAS

A aprovação pela Câmara dos Deputados do texto da Lei de Biossegurança inflamou a discussão sobre os transgênicos no Brasil. Nesse meio tempo, os cientistas saíram de suas salas e laboratórios para acompanhar e debater esse processo. O grande temor é que a legislação regulamentando a prática científica nesse segmento venha a provocar um retrocesso histórico e catastrófico nas pesquisas brasileiras. "Vejo as pesquisas científicas sob risco com esse projeto de lei", adverte o pós-doutorado em biologia molecular e técnico da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Francisco Aragão.
A pressão da bancada evangélica e de outros grupos por mudanças no texto da lei alarmou os pesquisadores. Sem consultoria de especialistas, os parlamentares brasileiros passaram a negociar alterações com as lideranças de oposição. O que era um assunto meramente científico transformou-se num joguete de concessões políticas. Isto preocupa em demasia o pós-doutorado em biologia molecular e professor na UFPR - Universidade Federal do Paraná, Fábio de Oliveira Pedrosa. "A emoção está sobrepondo a razão. Não se pode voltar à Idade Média", alerta.
Essa opinião é partilhada por seu colega Aragão, da Embrapa e pesquisador do Cenargen - Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia. "A verdade é que já estamos no obscurantismo, na Idade Média, com o impedimento no uso de embriões". Para o cientista, os reflexos negativos gerados com a polêmica sobre a lei já estão sendo sentidos em diversos projetos pioneiros no país. "Estamos vendo uma evasão de recursos e de investimentos na pesquisa científica, pois criaram grandes dificuldades para a comercialização dos produtos", avalia.
Qualquer distorção na constituição desta lei pode cair como uma bomba devastadora em grandes progressos feitos no próprio Paraná. Oliveira Pedrosa é o coordenador do Programa Genoma Paraná, um projeto pioneiro e muito conceituado no meio acadêmico. Com ele, foram instalados 10 laboratórios de pesquisas no sul do país.
Isso garante um potencial de estudos altíssimo para os próximos anos e uma possível liderança em nível nacional. "Os transgênicos podem melhorar muito a qualidade de vida das pessoas", explica. Outro ponto de concordância dos cientistas é que, quando o assunto é transgênicos, há muitas distorções e preconceitos agindo sobre a opinião pública.
O Brasil investe nesta tecnologia há 20 anos e tem conseguido resultados significativos, principalmente no setor agrícola. O diretor geral do Cenargen, o cientista Luiz Antônio Barreto de Castro, confessa seu medo numa evasão de profissionais especializados nos estudos referentes aos transgênicos.
Ele constatou que as agências de financiamentos, geralmente ligadas aos governos estaduais, estão diminuindo os recursos para esse segmento de estudo desde há três anos.

Para bioquímica da UFPR, pesquisa não será afetada
Não são todos os estudiosos que acreditam que a nova Lei de Biossegurança Nacional será restritiva às pesquisas. A doutora em Bioquímica da UFPR e uma das mais respeitadas estudiosas da área, Glaci Zancan, apóia totalmente os limites estabelecidos pela lei. Para ela, a pesquisa está longe de ser afetada pela instituição de uma lei ou mesmo de um órgão controlador e avaliador dos projetos. Esse conselho que consta do projeto será formado por membros de diversos segmentos. "A maior preocupação era com os pontos inconstitucionais, que já estão sendo resolvidos, embora a questão das células tronco deveria estar numa outra lei, mais específica", comenta.
A pesquisadora acaba por discordar de seus colegas em alguns itens. Em seu entender, haverá limites definidos e proteções necessárias na manipulação desta nova tecnologia, o que estaria longe de ser um impedimento a prática da ciência ou mesmo na captação de recursos. A lei, em sua opinião, cerceará os profissionais antiéticos. "O que é errado é dar imagem de correto ao ilegal", reforça. "Eu vejo que boa parte da reação contrária aos transgênicos é de natureza política, ideológica e sequer está baseada em fatos científicos consistentes", observa.

Fonte: Gazeta do Povo

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