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quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Embrapa testa sistema que permite de forma efetiva controlar o carrapato-do-boi sem usar carrapaticidas

Os resultados da pesquisa liderada pelo médico-veterinário Renato Andreotti, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, deixaram a equipe bem animada, afinal a luta vem de muito tempo tentando, se não acabar, diminuir o problema da infestação de carrapatos nos bovinos e suas consequências que acarretam grandes prejuízos para a produção nacional numa ordem estimada em US$ 3,24 bilhões/ano. O carrapato-do-boi (Rhipicephalus microplus) causa uma doença conhecida como tristeza parasitaria bovina (TPB) (Babesia bovis, Babesia bigemina e Anaplasma marginale), levando os animais à morte. Se o produtor não adota um controle, o prejuízo é certo, por isso é de suma importância o estudo de controle desse parasito. O pesquisador Andreotti explica que “o nível de infestação do carrapato nos rebanhos varia em função da presença e do grau de raças sensíveis. A infestação acarreta perda de peso pela inapetência, irritabilidade do animal, perda de sangue pela espoliação acentuada levando à anemia, lesões no local da picada evoluindo para miíases e lesões posteriores no couro. A alta infestação promove instabilidade dos agentes infecciosos responsáveis pela Tristeza Parasitaria Bovina (TPB) levando a surto de mortalidade de animais”. A pesquisa liderada pelo cientista, que ele nomeou de Sistema Lone tick, permite o controle da infestação do carrapato nas pastagens deixando as larvas “solitárias” (em inglês lone) por meio do distanciamento entre parasito e hospedeiro. Os testes a campo foram realizados durante um ano com animais da raça Senepol. O pesquisador explica que o rebanho zebuíno (Nelore) compõe a maior parte no Brasil e coloca o país no cenário dos maiores produtores e exportadores de carne bovina no mercado mundial. Segundo ele, nas últimas décadas, novas raças bovinas e seus cruzamentos foram introduzidos gerando animais com maior desempenho produtivo, mas com grandes dificuldades no controle do carrapato. “Ao não controlar de forma adequada o carrapato, o ganho de produtividade oferecido pela genética não aparece no resultado da balança comprometendo o investimento”, esclarece. Novo sistema controla os carrapatos de forma ecologicamente correta Atualmente, o método utilizado para controlar o carrapato no rebanho bovino é o controle estratégico com uso de pesticidas, porém ele se mostra esgotado em função do desenvolvimento de resistência do carrapato a esses produtos. Explica Andreotti, que acrescenta: “O uso dos acaricidas da forma como é feita, na maioria das vezes, sem orientação técnica adequada, leva à contaminação dos animais, dos trabalhadores e do ambiente”. O pesquisador comenta que um dos gargalos para o sucesso do controle estratégico do carrapato com o uso de acaricidas é o surgimento de carrapatos resistentes, resultado da pressão de seleção causada nas populações desses parasitos exercida pelo tratamento, tornando-se um grande desafio para o combate às populações de carrapatos e a inserção de novos métodos de controle. E foi exatamente pensando em novos métodos de controle que o Sistema Lone tick foi estudado apresentando resultados muito positivos. Vários testes foram realizados com animais a campo e infestação de carrapatos. Uma das observações feitas pelo especialista foi de que o Sistema Lone tick corrigiu a carga parasitária no sistema para condições ótimas de controle, que, segundo Andreotti, significa baixa infestação de carrapatos com redução de impacto da ação dos mesmos e manutenção da estabilidade enzoótica para a tristeza parasitária bovina. “Durante um ano de observação e monitoramento dos animais, nenhum deles apresentou sintomas para TPB”, revela. Para o especialista o Sistema Lone tick é um sucesso e explica a razão: “O carrapato-do-boi completa o ciclo de vida no hospedeiro em 21 dias com o ingurgitamento da fêmea e sua queda ao solo com consequente postura de 3000 ovos em média, iniciando a fase não parasitária. As larvas emergem dos ovos e constituem 95% da população de carrapatos no ambiente, sendo a fonte de reinfestação para os animais, não sendo alcançadas diretamente pelos carrapaticidas. A grande maioria das larvas do carrapato-do-boi não sobrevive no ambiente por mais de 82,6 dias. Portanto, o Sistema Lone tick oferece uma forma de controle nesta fase de vida livre do carrapato, com base na rotação de pastagens e permitindo um tempo de 84 dias das larvas sem contato com o hospedeiro, tempo suficiente para a morte das larvas por inanição”. Andreotti expõe também que outro fator extremamente importante, juntamente com a manutenção da baixa população de carrapatos, é a ausência do uso de acaricidas respeitando o ambiente – prática obrigatória no controle estratégico – não gerando contaminação por meio de resíduos e, tampouco pressão de seleção pelas bases químicas desses produtos utilizados no tratamento. Para o pesquisador os resultados mostram que, com base no conhecimento da ecologia e biologia do parasita, é possível controlar de forma ecologicamente correta as populações desta espécie de carrapato, atendendo assim, uma demanda de mercado internacional, que seria a diminuição do uso de produtos químicos e seus efeitos colaterais. A baixa infestação das larvas nas pastagens observada durante os testes levou à baixa manutenção de carrapatos nos bovinos mostrada pela contagem de carrapatos nos animais a cada 28 dias, sendo essa uma situação desejável para a manutenção da estabilidade enzoótica da TPB e mantendo a quantidade de carrapatos abaixo do limiar econômico de no máximo 40 carrapatos/animal. A estabilidade da população de carrapatos traz segurança nas condições sanitárias por reduzir o risco de morte dos animais com a TPB e a espoliação com perda de peso e, com isso ampliando a redução do custo da arroba produzida. Em breve um artigo técnico com detalhes da pesquisa será publicado. Para saber mais sobre controle de carrapatos sugere-se a leitura do Documento 214: “Proposta de controle de carrapatos para o Brasil Central em sistemas de produção de bovinos associados ao manejo nutricional no campo”.


Eliana Cezar

EMBRAPA - II Congresso Mundial de ILPF será nos dias 4 e 5 de maio

 


O II Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) que seria realizado no mês de junho do ano passado em Campo Grande, MS, não aconteceu devido a pandemia de coronavirus. A Comissão Organizadora estudou uma nova data e decidiu realizar o evento de forma 100% digital durante dois dias; 4 (terça-feira) e 5 (quarta-feira) de maio. A secretária executiva da Comissão Organizadora, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Lucimara Chiari, garante que o evento será dinâmico, com palestras mais curtas e sem perda de conteúdo.

No Congresso serão tratados temas como: desafios e oportunidades para ILPF no mundo, soluções e demandas das empresas do agronegócio, cenários e tendências da ILPF, soluções e demandas de produtores, políticas públicas, inovação entre outros. Para apresentar e discutir os temas o Congresso contará com especialistas de vários países como dos EUA, Europa, Austrália e América Latina.

O objetivo do Congresso é propiciar um fórum de discussão, com aprofundamento teórico e aplicações práticas sobre aspectos tecnológicos e de sustentabilidade econômica e ambiental de sistemas agrícolas consorciados que combinem a produção integrada da lavoura, da pecuária e da floresta na mesma área e com uso eficiente de insumos, que são fundamentais para a segurança alimentar no futuro.

“A nossa expectativa é reunir em dois dias cerca de mil pessoas e proporcionar muita troca de conhecimento e experiência, informações atualizadas da pesquisa com a ILPF, apresentar o que tem sido feito, resultados obtidos, experiências vivenciadas por produtores, além de debatermos inovações, sustentabilidade e segurança alimentar”, ressalta Lucimara Chiari.

A pesquisadora informa que o evento será totalmente virtual, auditório, feira de estandes, acesso aos pôsteres lembrando-se da oportunidade de se formar uma rede de relacionamento. “Os sistemas de ILPF representam uma tecnologia de extrema importância no Brasil e no mundo e por esse motivo não desistimos de continuar com as ações para a realização do Congresso mesmo na pandemia”, diz Chiari.

A participação no evento será feita por meio de inscrição. Está garantido o certificado de participação. Para saber mais como validar a participação o interessado deverá entrar na página: https://www.wcclf2021.com.br/inscricao

O II Congresso Mundial de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma realização do Mapa, Embrapa, Rede ILPF, Famasul e Semagro.

Informações gerais sobre o evento podem ser conhecidas no endereço: https://www.wcclf2021.com.br

Eliana Cezar
Jornalista – Embrapa Gado de Corte

DRT 15.410/SSP-SP

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