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quinta-feira, janeiro 01, 2004

AGRICULTURA DE VENTO EM POPA

Por Roberto Barreto de Catende



Fabíola parecia uma colheitadeira de última geração. Uma daquelas máquinas fantásticas, cheia de recursos informatizados, em que o agricultor monta e senta a pua. 

Enfeite sobre a mesa laminada da sala 940-A, no 9º andar do Ministério da Agricultura, corpo firmemente posicionado em ângulo de impulso olímpico, reforçado pela mão esquerda espalmada sobre a coxa, uma pulseira combinando com brincos e colar, Fabíola parecia uma colheitadeira de última geração. Uma daquelas máquinas fantásticas, cheia de recursos informatizados, em que o agricultor monta e senta a pua, usufruindo na atmosfera perfeita, com ar condicionado e som ambiente, das benesses que a evolução tecnológica coloca à disposição do homem que planta. Posicionada na foto como uma felina preste a dar o bote, Fafá montou o cenário como alguém que queria mostrar serviço, aninhada entre relatórios de computador, papéis espalhados, um calendário ensarilhado, um telefone de mesa com teclado preto ao lado de um vasinho de plástico da mesma cor, contendo uma plantinha tipo bonsai. 

O assunto saiu n’O Globo, na antevéspera do foguetório de São João, em cobertura completa sobre a Fafá, na potência dos seus 18 aninhos, em “poses sensuais na Esplanada”, mais precisamente em gabinete do Ministério da Agricultura. Funcionária da pasta, ou seja, possivelmente estimulada pelo inacreditável desempenho do nosso agronegócio, à empolgada só faltou plantar bananeira, porque o resto ela fez. Ao deixar a mesa, por exemplo, vestiu uma blusa branca e se plantou diante dos armários, tendo o mapa do Brasil ao fundo, da sala entenda-se, em pose típica de quem aprendeu na TV a fazer a dança da garrafa em programa de auditório. A madame parecia sob o efeito de uma implosão. Noutra foto, serviu de cenário a Esplanada dos Ministérios, estrategicamente enquadrada na moldura do janelão de vidro providencialmente fechado contra alguma corrente indesejada. Afinal, além da blusinha verde, fechada por lacinhos e decorada com flores bordadas em amarelo, a deslumbrada vestia apenas anel, pulseira, fitinha do senhor do Bonfim e um colarzinho de contas. 

Antes de demonstrar sua estabilidade nas curvas, Fafá trabalhara na seção de controle de pragas, mas foi no setor de protocolo onde arranjou coragem para subir, deitar e rolar na mesa do chefe. Ademais, ela saracoteou dentro do órgão público, julgando-se um monumento sobre pilotis, tal o tamanho do salto alto, e pensando que o assunto não fosse vazar, acredite se quiser. Mas vazou e, quentes que nem batatas doces na fogueira, as fotos passaram a pipocar nas telas da rede eletrônica, numa demonstração inequívoca de que, nesta terra abençoada por Zeus, em se plantando sempre brota. 

Andei analisando o tal ensaio fotográfico, sob os mais diversos ângulos, e cheguei a uma conclusão não muito animadora para aqueles que, porventura, estejam ansiosos para correr ao computador em busca de alguma Fabiola.com.br, Fabi.org.br ou Fafa.gov.br. Asseguro que o fotógrafo não foi dos mais felizes, pelo menos nas fotos divulgadas, porque, ao contrário do que vem acontecendo com a nossa agricultura, nas poses da Fafá é visível que faltou vento na popa.


Fonte: CMI Brasil

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