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quarta-feira, junho 09, 2004

Crescimento com mais empregos

“Sem emprego, crescimento e industrialização rápida o Brasil não tem concerto”. Com base nessa premissa se desenrolou a palestra “Rumo ao desenvolvimento sustentável e sustentado: inclusão social pelo trabalho decente”, proferida pelo economista Ignacy Sachs, professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, na França. O evento ocorreu na noite de segunda-feira (7/6), na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo.
Segundo Sachs, especialista em problemas econômicos e sociais brasileiros, apenas o crescimento econômico não basta para assegurar um aumento nas taxas de emprego. “Os países precisam entender que é preciso haver um casamento entre crescimento e emprego”, disse para alunos de graduação e pós-graduação da faculdade.
O cientista defendeu que a única forma de atacar a dívida social acumulada, causada pelo crescimento rápido das grandes cidades, é por meio da inclusão social pelo trabalho decente. “Esse conceito envolve não apenas um aumento no número de postos de trabalho, mas também na qualidade dos empregos que devem ser gerados, com boa remuneração e condições de trabalho dignas”, disse. “Para que isso ocorra, é preciso que as estratégias sociais e econômicas propostas sejam, acima de tudo, viáveis com relação aos coeficientes de elasticidade de emprego e crescimento.”
O economista sugeriu a aplicação de investimentos no que chama de “núcleos modernizadores da economia”. “São as empresas modernas capazes de absorver uma grande parte dos investimentos fundamentais para aumentar a produtividade global da economia, com o objetivo de conquistar espaço na divisão internacional do trabalho”, explicou.
Sachs também defendeu a criação de uma Rede Universal de Serviços Sociais de Base, que incluiria saúde, educação, saneamento básico e moradia. Essa rede de políticas assistenciais atuaria diretamente no bem estar do cidadão comum, fazendo com que ele pudesse desfrutar de qualidade de vida e, ao mesmo tempo, ter maior capacidade de identificar as oportunidades e propostas de inclusão no mercado de trabalho.
Sachs citou um texto de sua autoria escrito para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde afirma que o Brasil possui um aparelho industrial moderno e diversificado e um setor de agronegócios que lhe confere a liderança mundial em vários setores. “Por conta disso, é preciso haver um novo ciclo de desenvolvimento rural, pois o Brasil tem a maior diversidade do mundo, uma grande reserva de terras cultiváveis e uma massa enorme de pessoas querendo trabalhar”, afirmou.
Para o economista, o país tem excelentes pesquisas de nível internacional nas áreas de agronomia e biologia, além de ter condições climáticas e ecossistêmicas extremamente favoráveis para a agricultura. “Deveríamos dar mais atenção à produção de biomassa, por exemplo, que pode ser utilizada como uma fonte de alimento, energia, forragem para animais, fertilizantes, material de construção, além de ser uma excelente matéria-prima industrial.”
Nesse caso, segundo Sachs, seria preciso utilizar a biotecnologia para aumentar a produtividade primária da biomassa, aumentando o leque dos produtos dela derivados. Isso, considerando que a agricultura moderna será cada vez mais caracterizada pela pluriatividade dos agricultores familiares.
“Diria que o Brasil está maduro para este novo ciclo rural que levaria o país a liderar, em escala mundial, o processo de construção de uma civilização sustentável baseada no uso de recursos renováveis, com respeito às regras de gestão ambientalmente viáveis”, disse.
Nascido na Polônia, Ignacy Sachs viveu por 14 anos no Brasil, onde se graduou em economia pela Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Doutorou-se pela Universidade de Nova Déli, na Índia. Foi professor da Universidade de Varsóvia, na Polônia, consultor de organismos internacionais e conselheiro especial da Conferência das Nações sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - ECO-92. Entre os livros que escreveu estão “Capitalismo de Estado e Subdesenvolvimento” (Vozes, 1969), “Ecodesenvolvimento - Crescer sem Destruir” (Vértice, 1981) e “Espaços, Tempos e Estratégia do Desenvolvimento” (Vértice, 1986).

Fonte: Agência FAPESP

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