Com uma produção anual de cerca de 10 milhões de toneladas de arroz, o Brasil ocupa o décimo lugar na lista dos produtores mundiais. Em 2002, de acordo com dados do IBGE, o estado-líder na produção foi o Rio Grande do Sul, responsável por 51,61% da safra. Estima-se atualmente uma produção mundial de 100 milhões de toneladas de arroz a cada ano – um volume considerável de grãos, de cascas desse produto agrícola e de cinzas resultantes da queima desse resíduo da indústria arrozeira.
Além de abundante, a casca de arroz é considerada também o resíduo vegetal que mais produz cinzas ao ser queimado. Suas cinzas vêm se mostrando uma ´matéria-prima´com alto potencial em estudos que buscam o reaproveitamento de resíduos na construção. Uma das principais aplicações é a produção de concretos de alto desempenho, com grande resistência e durabilidade.
Pesquisas laboratoriais já mostraram que o desempenho das cinzas da casca de arroz é comparável ao da sílica ativa, um componente comercial necessário na produção de concretos de alto desempenho. Esse tipo de concreto pode ser usado em pilares, vigas, lajes e outras estruturas sujeitas a ambientes agressivos, como atmosferas industriais e marítimas.
"O não aproveitamento desse resíduo não pode mais ser aceito pela sociedade", avalia o professor Luiz R. Prudêncio Jr, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um os autores no artigo ´Cinza da Casca de Arroz´ , publicado no livro ´Utilização de Resíduos na Construção Habitacional´ editado pelo Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare).
O professor divide a autoria do trabalho com Sílvia Santos, mestre em Engenharia Civil pela UFSC, professora na Univali, e Dario de Araújo Dafico, mestre em Engenharia Civil e doutor em Engenharia Mecânica pela UFSC, atualmente professor da Universidade Católica de Goiás. O Programa Habitare é financiado pela Finep e Caixa Econômica Federal, e tem editado uma série de obras com resultados das pesquisas na área de tecnologia de habitação.
De acordo com o artigo, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de utilizar esse produto em setores industriais, em especial na indústria da Construção Civil. Mas, ainda que o assunto seja relativamente antigo e resultados de pesquisas mostrarem o excelente potencial como pozolanas, as cinzas resultantes da queima da casca de arroz não têm sido muito utilizadas para produção de concreto no Brasil ou outros países.
"Isso pode acontecer devido ao fato de que as cinzas de boa atividade pozolânica geralmente possuem teores elevados de carbono, acima de 5%, produzindo uma coloração cinza-escura no concreto, pouco aceita no mercado consumidor", avaliam os autores do trabalho.
Impacto
Segundo o artigo, a crise energética mundial e a busca de fontes alternativas de energia renovável fomentou o aproveitamento das cascas de arroz, que vêm sendo usadas como combustível vegetal. Essa queima, no entanto, produz cinzas em grande quantidade. O trabalho ressalta que nenhum outro resíduo da agricultura produz tantas cinzas quando queimado.
"Atualmente, são ainda as empresas beneficiadoras de arroz as principais consumidoras da casca como combustível para a secagem e parboilização do cereal. Como são, em geral, de empresas de pequeno porte, não possuem processos para aproveitamento e descarte adequados das cinzas, que são depositadas em terrenos baldios ou lançadas em cursos d'água, provocando poluição e contaminação de mananciais", explica o professor Luiz R. Prudêncio Jr.
Para ele, afim de minimizar o problema, órgãos ambientais têm buscado regulamentar o descarte dessas cinzas. Instituições de pesquisa estudam seu reaproveitamento na construção.
Fonte: Habitare
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