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quarta-feira, janeiro 28, 2004

Cascas de eucalipto : Resíduo vira fonte de matéria-prima

Minas Gerais tem a maior área de reflorestamento de eucaliptos de todo o país e, conseqüentemente, é aqui onde existem os maiores problemas com descarte de cascas de eucalipto. A dificuldade em eliminar esse passivo ambiental, que demora anos para se decompor, motivou pesquisadores da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec) a transformar o lixo das empresas reflorestadoras em fonte de matéria-prima para outras indústrias. A proposta é tornar as cascas de eucalipto uma nova fonte de tanino, substância utilizada no curtimento do couro e na produção de adesivos e fitoterápicos. Esta substância é capaz de complexar carboidratos e proteínas e desempenha diversos papéis no metabolismo vegetal, principalmente os relacionados com a defesa contra agentes externos. “O eucalipto não produz altos teores de tanino, mas o grande volume de cascas e o baixo custo podem torná-lo uma fonte mais interessante do que as usadas atualmente: a acácia negra e o quebracho”, explica o estudante de química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leandro Fernandes de Almeida.
Com o auxílio da Bolsa de Iniciação Científica da FAPEMIG e o desafio de viabilizar a extração de tanino das cascas de eucalipto, o estudante deu início à atividade científica. Sob a orientação do pesquisador e coordenador do Setor de Biotecnologia e Tecnologia Química do Cetec, Lincoln Cambraia Teixeira, e apoio da engenheira química e também bolsista da FAPEMIG, Marcela Dominguez Vitorino, Leandro participou de todas as etapas do projeto “Produção de Taninos Vegetais a partir de Cascas de Eucalipto Geradas pelas Empresas Reflorestadoras. O trabalho, apresentado em setembro deste ano no Congresso Brasileiro de Química, rendeu ao bolsista o primeiro prêmio na XVI Jornada Brasileira de Iniciação Científica em Química.
Na primeira etapa da pesquisa, a equipe fez a análise química e a extração de tanino das cascas de eucalipto, doadas pela Vallourec & Mannesman. Cinco espécies foram analisadas (E. urophylla, E. cloeziana, E. grandis, E. camaldulensis e E. pellita) e todas apresentaram bons resultados, especialmente a E. urophylla pelos altos teores de extrativos.
Antes de iniciar o processo de extração do tanino, foram realizados testes preliminares para determinar temperaturas, tempos de extração, velocidade de reação e fração de licor. O tanino foi extraído através de um processo à base de água e o potencial da substância foi determinado por meio de um teste chamado hide powder, utilizado para taninos aproveitáveis no curtimento do couro. Os pesquisadores optaram pela extração com água, por ser um processo sustentável e 100% limpo. “O nosso objetivo é aproveitar as cascas descartadas, sem causar nenhum dano ao meio ambiente”, diz o estudante.
Os testes foram realizados em parceria com a Tanac S.A., empresa que produz extratos tanantes vegetais para a indústria do couro, a partir da casca de acácia negra. Essa parceria permitiu reproduzir as condições industriais para tornar os testes mais próximos da realidade. Dessa vez, a espécie E. cloeziana foi a que mais se destacou, apresentando resultados promissores para a aplicação comercial. O próximo passo é a extração em escala semipiloto para testes em curtumes.
A premiação e o entusiasmo do estudante de química reforçam a importância dos programas de apoio à iniciação científica. É nesse momento que nasce o interesse pela Ciência e Tecnologia e surgem os novos pesquisadores. Além de despertar vocações e contribuir para a formação de recursos humanos para a pesquisa, a iniciação científica incentiva a descoberta de talentos entre os estudantes de graduação e prepara os alunos para a educação continuada.
Essa é uma das preocupações da FAPEMIG que, desde a sua criação, em 1986, oferece Bolsas de Iniciação Científica (BIC) para os estudantes de universidades e centros de pesquisa sediados em Minas Gerais. Em 2003, a Fundação tem apoiado, em média, 800 bolsistas dessa modalidade, por mês. Somente no Cetec, estão em vigor 15 bolsas BIC da FAPEMIG. “Os bolsistas têm sido extremamente importantes para o Cetec e participam ativamente dos projetos de pesquisa da instituição”, ressalta Lincoln Cambraia.
As bolsas da FAPEMIG são destinadas às instituições de ensino superior e de pesquisa, que selecionam os estudantes e repassam o auxílio. A Fundação determina, no entanto, que o candidato tenha cursado pelo menos o segundo período do curso de graduação, no qual deve estar matriculado, não acumule bolsa nem tenha vínculo empregatício de qualquer natureza e, ainda, possua alto desempenho acadêmico. Os contemplados com a BIC recebem, mensalmente, a quantia de R$ 241,50 e têm a oportunidade de integrar a equipe de renomados pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento.


Fonte: Revista Minas Faz Ciência

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