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quarta-feira, dezembro 03, 2014

RODRIGO CONSTANTINO: “A ideia do governo é jogar a responsabilidade fiscal no lixo”, diz manifestante expulso do Congresso






Chego ao aeroporto de Confins hoje cedo e vou direto à livraria, ver os jornais. Deparo então com meu colega Adolfo Sachsida, velho conhecido do movimento liberal, estampado bem na capa da Folha, sendo arrastado por seguranças.


Sachsida é doutor em Economia, trabalha no Ipea e foi candidato a deputado distrital nessas eleições. Abaixo, segue a entrevista que ele gentilmente concedeu ao blog:

Por que o protesto? Como economista, você considera a aprovação desta LDO um golpe político, um calote fiscal?

O protesto tem como objetivo evitar a aprovação do PLN 36/2014. Na prática a ideia do governo é jogar a responsabilidade fiscal no lixo. Isto é, o governo quer jogar no colo de nossos filhos a conta por sua irresponsabilidade fiscal. A aprovação de uma nova lei de orçamento para 2014, no ÚLTIMO mês de 2014, é uma imoralidade. O governo gastou demais, e agora quer mudar a lei para dizer que cumpriu a lei. Além disso, existe um efeito cascata: se o governo federal pode fazer isso, então estados e municípios também podem. Resumindo: será a irresponsabilidade fiscal em todos os níveis de governo. Quanto a questão política, existem implicações legais decorrentes do descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Uma dessas sanções é a improbidade administrativa, que pode ter séries implicações para um futuro governo Dilma.

Como ocorreu sua expulsão do Plenário? Houve uso de agressão?

Estava com uma mordaça vermelha na boca, numa referência ao PT querer calar a população. Então os seguranças se aproximaram de onde estávamos e mandaram que todos se retirassem, ninguém poderia permanecer mais nas galerias do Congresso Nacional. Eu me recusei. Disse que era meu direito permanecer na casa do povo. Estava sentado e perguntaram novamente: você irá se retirar? Novamente respondi que não. Afinal, era meu direito constitucional permanecer. Nesse momento vários seguranças vieram para cima de mim, que ainda permanecia sentado, e pegando cada um uma parte de meu corpo me levaram para fora. Importante ressaltar que em momento algum reagi. Em momento algum agredi, permaneci parado enquanto me conduziam para fora. Nesse momento surgiu outro problema: não havia como me levarem para fora sem passar por cima de outros que estavam lá protestando. Ocorreu empurra-empurra, mas ressalto uma vez mais que permaneci imóvel e sem reagir enquanto me levavam para fora. Nesse momento recebi um choque nas costas. Quando finalmente me tiraram da galeria fui conduzido à saída, e lá pediram que esperasse. Nesse momento ocorreu algo chato: o segurança que me conduziu disse que eu seria detido por desacato. Respeitosamente disse que não tinha desacatado ninguém, e o segurança de maneira grosseria mandou que me calasse. Repeti que não havia cometido delito algum, e o segurança perguntou se alguém tinha falado comigo, que era melhor eu ficar calado. Outro segurança, muito mais calmo, gentilmente pediu que eu sentasse no sofá e aguardasse. Esperei lá por uns 20 ou 30 minutos, após isso fui liberado. Perguntei se gostaria de anotar meu nome e telefone, pois não sou bandido e não estava fugindo de nada. Fui informado que isso não era necessário, mas que deveria me retirar das dependências do Congresso. Por fim, ressalto que cheguei a pedir por socorro para Maria do Rosário…. aparentemente ela não me ouviu.

Isso significa que o PT perdeu o monopólio dos protestos e que a oposição finalmente acordou?

Ontem foi um dia histórico, um dia em que o PT proibiu o povo de participar de forma democrática do Congresso Nacional. Renan Calheiros foi apenas o instrumento, mas não nos enganemos, quem proíbe o povo de entrar no Congresso Nacional é o PT. O PT quer calar o Brasil, mas não conseguirá!

Não era o próprio PT que dizia defender maior “participação popular” na democracia? Você é parte do povo? A máscara do PT caiu, deixando transparecer sua face autoritária?

O PT não defende maior participação popular. O que o PT defende é que os movimentos sociais que ele controla tenham mais força. O PT não suporta o fato de que movimentos legítimos da sociedade, e indivíduos independentes, tenham vontade própria. Uma coisa eu sei por certeza: eu sou cidadão brasileiro, e o PT não me representa.

Renan Calheiros, aliado do PT, insinuou que os manifestantes fossem “assalariados”, ou seja, que estivessem ali a soldo do PSDB. Você recebeu algum dinheiro para protestar?

Não recebi e nem aceitaria dinheiro algum. Mas recebi um dos maiores pagamentos que um homem pode receber, a consciência tranquila do homem honesto que lutou pelo que acredita.

Você é economista e trabalha no Ipea, que vem sendo alvo de crescente influência política. Houve algum tipo de retaliação por lá, por suas posturas políticas e ideológicas?

Fui convidado pela comissão de ética do instituto a dar explicações sobre duas declarações minhas. A primeira referente às críticas que fiz em relação a pesquisa incorreta do IPEA sobre estupro. E a segunda referente à minha declaração de que manter uma sede na Venezuela equivalia a legitimar uma ditadura. Por algum motivo o convite a explicações virou algo mais, e acabei recebendo uma censura, pequena, é verdade, mas ainda assim uma censura da comissão de ética. Por fim, fui exonerado do cargo que mantinha (mas como sou funcionário público concursado mantive o emprego). Cabe ressaltar que minha exoneração foi anterior ao convite para prestar esclarecimentos na comissão de ética.

Você foi candidato nas últimas eleições a deputado distrital. Ainda pensa em entrar para a política? Quais são seus planos?

As eleições acabaram, e confesso que não sei se quero passar por outro pleito. Sou um técnico, tenho doutorado e fui professor de economia nos Estados Unidos. Não tenho o treino de um político, meu treino é em economia e métodos quantitativos. Hoje meu objetivo é garantir que minhas filhas não terão que pagar a conta da irresponsabilidade fiscal do governo atual. Tenho com elas o compromisso que meus pais tiveram comigo: entregar a elas um pais melhor do que recebi.

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