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quinta-feira, novembro 27, 2014

Fausto Masó: Estamos no Natal? Mentira



Maduro preside o Natal mais lúgubre da História venezuelana. Não há clima de festa nas lojas, nas ruas ou na televisão


Diz-se, quando se recorda o 26 de fevereiro de 1989 (Caracazo, revolta popular contra o aumento da gasolina), que o presidente Nicolás Maduro não reajusta o combustível por medo. Muitos repetem que está tudo bem. Mas, se há algo garantido, é que este é o Natal mais lúgubre da História venezuelana. Não há ambiente natalino nas lojas, nas ruas ou na TV. Não há alegria nos centros comerciais, onde os donos de lojas evitam chamar a atenção da legião de camelôs que os ameaça. São abundantes as lojas fechadas ou sem mercadorias.

Ninguém compra, ou não há nada para comprar. Não há voos ao exterior, nem dentro do país. As pessoas não procuram presentes, mas uma bateria para seu carro, qualquer peça de reposição. Ninguém anda com pacotes pelas ruas, nem mesmo sai à noite, a não ser para ir a uma padaria próxima.

Maduro deveria fazer sua próxima aparição em cadeia nacional junto a uma árvore de Natal.

Na TV, as empresas não põem aqueles vistosos comerciais, no rádio não se ouvem as canções natalinas. Há apenas interessados em pinheiros importados com dólares controlados — compre um, são uma pechincha. A Corpoelec, a estatal de eletricidade, decretou Natal às escuras; em algumas avenidas de Santa Paula ou de Catia não há um sinal aceso.

Este é o Natal mais desolador de que se tem notícia na Venezuela. Não se vê alguém vestido de Papai Noel.

Sente-se em frente à TV e comece a chorar. Não há anunciantes, não há empresas. As poucas que sobreviveram não produzem aqueles anúncios espetaculares de outros anos, quando ainda se escutavam canções natalinas no rádio.

Por que Maduro escolhe o Natal para decretar novos impostos, nada menos que sobre bebidas? Só há uma razão: precisa de dinheiro urgentemente. Só assim se explica escolher uma data tão pouco apropriada. Não se sabe bem o que anunciou, porque há novas leis, como a modificação das normas para pesca, que não se entendem. Volta a pesca de arrastão?

A Agenda Ramírez parecia derrotada. O ex-ministro da Economia organizava reuniões internacionais para explicar os planos econômicos do país; subiam títulos venezuelanos; dava-se por certo o aumento da gasolina. Até que o destituíram, mas agora o economista Francisco Rodríguez aparece no canal de TV oficial defendendo o câmbio único.

Os camelôs continuam vendendo produtos regulados pelo Estado. O contrabando de petróleo, cem mil barris diários, não se faz com um exército de atravessadores ou de caminhões. Suspeita-se que o contrabando saia pelos portos mesmo. Não há outra explicação.

A Venezuela é a mais desolada exceção na América Latina. No resto do continente, a economia cresce e poderosos corruptos são perseguidos. Maduro preside neste Natal o enterro do país.

No Brasil e no México, a sociedade se levantou contra a corrupção e a crise. No Brasil, foram presos numerosos milionários: “300 agentes da Polícia Federal detiveram em seis estados 23 dos mais ricos e poderosos empresários do Brasil. Muitos pertenciam ao ‘clube do bilhão’. Apenas tiveram tempo de pôr mudas de roupa numa mala pequena, junto com algo para ler e um nécessaire.”

No México, as pessoas saem à rua arriscando a vida. Entre nós, que se passa? Nada. Ou, como dizem alguns, “estamos em 26 de fevereiro?” Sinceramente, não parece. Vamos rumo a uma inflação superior a 100%, a um desabastecimento muito maior, a um desemprego maciço em lugares como a zona industrial de Valencia.

Somente os “bolichicos” (seguidores do bolivarianismo) brindam com champanhe. Estão comprando a preço de saldo empresas venezuelanas e usam seus contatos oficiais a favor dessas empresas. Dizem que compraram as enlatadoras de atum, por exemplo. Têm mais medo de investir nos EUA que na Venezuela.

Para os “bolichicos”, sim, é Natal.

E a oposição, é consciente do que está ocorrendo? Não se trata de escolher entre os defensores da saída ou apostar em eleições legislativas, mas de algo mais transcendental: expressar indignação frente a um país que se desmorona, porque logo não deixarão a Venezuela apenas os jovens profissionais, mas o fará todo aquele que obtiver um visto para o exterior, ainda que seja para a Namíbia.

Fausto Masó é colunista do “El Nacional”, de Caracas, do Grupo de Diarios América (GDA)

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