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terça-feira, abril 01, 2014

Reinaldo Azevedo ESCRACHA os FASCISTAS DE ESQUERDA que invadiram aula de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da USP

FASCISMO DE ESQUERDA INVADE UMA AULA NA SÃO FRANCISCO, INTIMIDA PROFESSOR, IMPÕE-SE PELA FORÇA BRUTA E SE QUEDR ARAUTO DA LIBERDADE

Invadi Reitoria quatros vezes na USP.

Invadi espaço do Crusp ocupado pela área administrativa da universidade.

Fiz miguelito — quem era ou é do ramo sabe do que se trata.

Apanhei.

Quase me lasquei bonito aos 16 anos.

Mas nunca fiz o que vocês verão abaixo. Nunca! Esses brucutus que se querem libertários não sabem o preço da liberdade. Não sabem o que é se arriscar por ela. Não estão preparados para a divergência.


O busílis é o seguinte.

O professor de direito administrativo Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, professor de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da USP, dava nesta segunda, dia 31 de março, uma aula em que criticava os regimes socialistas. Antes disso, consta, teria tornado público um texto em que defende o regime militar instaurado em 1964 no país.

Não conheço o texto, mas é muito provável que eu não concorde com Gualazzi hoje e é certo que não teria concordado com ele aos 18 anos. Agora, como antes, entendo que a palavra é a melhor expressão da divergência e que o tema poderia ter sido objeto de debate dentro da sala da aula.

Mas não! Esse grupo — não sei se com o apoio do Centro Acadêmico 11 de Agosto — resolveu simular cenas de tortura na porta da sala de aula e, em seguida, a invadiu. Convoquei muita greve na USP, deixo claro. Batia à porta. Pedia licença ao “mestre” — a orientação era para que chamássemos o professor de mestre — para falar. Se ele permitisse, muito bem, dávamos o recado; se não, então agradecíamos, pedíamos desculpa pela interrupção e saíamos. Não procedíamos daquele modo porque o país era uma ditadura e estávamos ainda a nove anos das eleições diretas. Procedíamos daquele modo porque entendíamos que certas conquistas da civilização deveriam permanecer fosse qual fosse o regime. Bem, vejam o vídeo com o barbárie. Volto em seguida.

Retomo
Um leitor manda-me seguinte trecho, atribuído a um dos invasores, que estaria no primeiro ano: “Esse professor distribuiu antes da aula um texto para alunos explicando por que ele defendia a ‘revolução’ de 1964 e como isso foi bom para o Brasil. Então nos reunimos para fazer um escracho contra ele. Antes de entrar, fizemos um pequeno teatro de uma cena de tortura e entramos dentro da sala. O professor foi muito agressivo, empurrou alunos. Ele perdeu as estribeiras, quis expulsar os estudantes de dentro da sala, mas começamos a batucar e ele saiu muito nervoso”.

O que foi que esse rapaz aprendeu sobre civilidade, contraditório, divergência? Santo Deus! Trata-se, nada menos, de uma faculdade de direito, onde se aprende, é lição básica, que um dos pressupostos de um regime de liberdades públicas e individuais é que todos têm o direito a um advogado — se a pessoa não puder arcar com um, às suas expensas, o Estado se encarregará de fazê-lo. Um defensor público, diga-se, cuidou do caso até de um dos réus do mensalão — aliás, foi o mais bem-sucedido na Corte.

Reitero: não se trata de concordar ou não com a tese de Gualazzi. Por razões teóricas, histórias e até sentimentais, é possível que eu discorde profundamente dele, mas estou certo de que não é assim que se fazem as coisas.

Cabe a pergunta óbvia: esse grupo se tornou agora o Comitê de Censura da São Francisco? É ele que vai definir o limite do que pode e do que não pode ser dito em sala de aula? Esses ignorantes truculentos conseguirão, finalmente, realizar o que nem o golpe militar conseguiu: eliminar, também no conteúdo, a chamada liberdade de cátedra?

É claro que essa gente, vê-se pela idade dos que tiram o capuz, não participou da luta pela redemocratização do país; é claro que essa gente só age de modo tão covarde porque sabe que não haverá consequências; é claro que essa gente só é tão bruta porque sabe que lhes vão conceder a licença para ser truculenta, embora ela própria não conceda a quem considera adversário nem mesmo o direito de falar. É claro que essa gente só age desse modo porque tem claro que o máximo risco que corre é o de humilhar os outros.

“Ah, Reinaldo, o ancião de 52 anos, quer ensinar a meninada a fazer a militância!” Eu não quero ensinar nada. Segundo o meu entendimento de democracia, também os idiotas e os ignorantes têm direito a voz e voto. Mas civilidade e senso de limites independem, em larga medida, do que se pensa. E só passa a ser função do que se pensa quando o que se tem em mente é um regime totalitário. Faço uma pergunta que o agora neoesquerdista Caetano Veloso fez àqueles que o impediram de cantar a música “É proibido proibir” num festival em 1968: essa gente é diferente dos fascistas que invadiram, naquele ano, o teatro e espancaram os atores da peça Roda Viva? Também esses “jovens” muito velhos estão matando agora o velhote inimigo que morreu anteontem.

Vejam lá o que diz o rapaz. O futuro advogado não acredita no valor da palavra e do debate. Ele aposta é  no escracho. Acha que, se os “inimigos” estiverem sendo humilhados, na força bruta, silenciados, então é sinal de que a luta avança. Ninguém contou a esse cara que, se e quando a sua ideia triunfar, com todos inimigos eliminados, então os vitoriosos começarão a fazer a caçada e a “cassada” entre si — porque esse é o destino fatal de todas as revoluções que impõem a sua verdade silenciando as demais: do Terror Francês à Coreia do Norte é assim.

A crise é mais geral
A crise do pensamento é mais geral. Eu vivi, infelizmente, a crise do pensamento marxista no Brasil, nos anos 80, para a qual o petismo concorreu de maneira importante — e mais ainda os grupelhos que estavam incrustados na legenda e acabaram, depois, ganhando vida própria.

Enquanto o marxismo foi, no Brasil, um domínio do “Partidão”, do antigo PCB, conservava-se certa noção de história — ainda que eu, trotskista estão, achasse a turma equivocada. Mas também nós éramos viciados na literatura específica; havia um amor genuíno pela teoria, por mais equivocada que ela me pareça hoje, 34 anos depois.

O gosto pela formação foi substituído pelo voluntarismo. Eu conheço a cara de paisagem de muitos “esquerdistas” da academia quando se cita um texto de referência daquela que deveria ser a especialidade deles. Não se lê mais nada, não se estuda mais nada, não se pesquisa mais nada. Em vez disso, rosna-se e pragueja-se em nome da “justiça”.

Uma barbaridade como essa deveria mobilizar os professores, o Conselho Universitário, a direção da universidade, Centro Acadêmico — que, consta, e temo que seja verdade, apoiou esse ato de violência.

Sinto-me envergonhado, a tal vergonha alheia, ao assistir a esse vídeo. Fico um tanto constrangido até de escrever a respeito. Qual é o grau de tolerância dessa turma para as ideias das quais discorda?

Como lembrei certa feita, “Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam de modo diferente.” E emendei então:
 
“A frase já foi um clichê na boca de esquerdistas que se opunham ou à ditadura ou a supostos consensos que, na democracia, não eram do seu agrado. Poderia ter sido dita pela liberal-libertária Ayn Rand, mas a autora é a comunista Rosa Luxemburgo. Confrontava Lênin, que mandou às favas a Assembleia Constituinte. No seu equívoco, Rosa tinha a honestidade dos ingênuos, mas revoluções são conduzidas pelo cálculo dos cínicos. A liberdade perdeu. A múmia de Lênin fede. Seu cadáver ainda procria.”

Mas sabem como é… Aquele rapaz deve pensar assim: “Eu acho esse professor fascista. Para provar que eu não sou, então invado a aula dele e o proíbo de falar”. E ele não vê nada de errado em seu raciocínio. Ele se considera um humanista.

Se há professores felizes com o que viram — e certamente há —, uma advertência óbvia e lógica: vocês entraram na fila do escracho; ainda chegará a vez de vocês. E pode ser que não haja ninguém mais para reclamar, para lembrar o pastor Niemöller.
 
Por Reinaldo Azevedo

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