Márcio Lopes de Freitas*
O que alimenta um povo não é eucalipto, mas arroz, feijão e milho. Dessa maneira, lideranças ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) justificaram a ocupação de fazendas de eucaliptos em vários pontos do país no início do ano. O que os organizadores ainda não responderam é como essas ações não enterram o conceito, defendido originalmente pelo próprio MST, de que a reforma agrária no Brasil, além de pacífica, deve ser realizada apenas em terras improdutivas.
O que os invasores chamam de “nova luta pela reforma agrária” vem se traduzindo em prejuízos aos proprietários e ao país. Na Bahia, por exemplo, quatro hectares de eucaliptos foram derrubados pelos invasores, em abril. Em Tremembé, na região do Vale do Paraíba de São Paulo, os proprietários de uma fazenda invadida estimam prejuízos de até R$ 1 milhão.
Ao afirmarem que eucalipto não alimenta o povo, as lideranças do MST se esquecem de que o agronegócio, a produção agropecuária de alta tecnologia, bate recordes no Brasil. No primeiro trimestre do ano, o setor agropecuário acumulou um superávit de US$ 6,6 bilhões, um resultado 44,7% superior ao verificado no mesmo período, no ano passado. Logo, não é difícil constatar o peso representado pelo setor na balança comercial brasileira.
Outro dado significativo refere-se à criação de empregos. Apenas as cooperativas agropecuárias de São Paulo, por exemplo, contam com 122 mil associados e empregam, diretamente, 23.200 pessoas, conforme dados de 2001. No Brasil, 80% dos agricultores associados a cooperativas possuem áreas inferiores a 100 hectares. Números como esses comprovam que o agronegócio nada tem a ver com o conceito de latifúndio improdutivo. Sem contar que o agronegócio termina por impulsionar o próprio pequeno produtor, na forma de fornecimento de gêneros alimentícios, por exemplo.
É claro que não se deve ignorar a importância social dos assentamentos de reforma agrária. Mas invasões como as promovidas nos cultivos de eucaliptos podem comprometer o consenso e o trabalho de décadas em favor da paz no campo e obstruir um trabalho silencioso para garantir o acesso a terra e às condições de sustentabilidade do pequeno agricultor nos moldes econômicos atuais.
No desespero de ocupar o cenário político brasileiro e chamar a atenção para suas ações, as lideranças dos sem-terra passaram a ignorar a lei e a invadir terras produtivas, o que rompe a trajetória histórica do movimento.
Não é dessa maneira que teremos inclusão social aliada ao desenvolvimento econômico. É preciso unir a importância do agronegócio com a função social exercida pelos assentamentos criados de maneira pacífica e dentro da legislação vigente. Um dos caminhos para essa harmonia entre o social e o econômico é o cooperativismo, sistema que permite a inclusão dos assentados na cadeia de negócios a partir de uma produção diversificada e de alto valor agregado. Eucalipto, é verdade, não alimenta as pessoas. O que alimenta é a geração e a distribuição de renda – obtidas inclusive a partir do cultivo de florestas –, não com o ataque à produção.
* Presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB)
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