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segunda-feira, fevereiro 16, 2004

É preciso investir mais no algodão

O Brasil hoje é o terceiro maior importador de algodão em pluma no mundo, o que confere anualmente elevadas perdas de divisas para o País. Um aumento de produção é necessário para um equilíbrio da balança comercial desse produto ou mesmo para uma reversão da situação, colocando o País como grande exportador . Uma alternativa para o País seria o cultivo do algodoeiro em regiões de fronteira agrícola, com potencial produtivo e com características climáticas favoráveis ao bom desenvolvimento do vegetal, como aquelas encontradas nos cerrados de Roraima e do Amapá.
No estado de Roraima, encontram-se grandes áreas de vegetação de cerrado, com topografia levemente ondulada, alta intensidade luminosa, clima apresentando estação seca na colheita, os cultivos de espécies anuais estão em ascensão com necessidade de alternativas para rotação, mercados potenciais nos países vizinhos e no estado do Amazonas, que favorecem ou estimulam a possibilidade de cultivo do algodoeiro herbáceo. Este contexto é fortalecido quando é considerada a questão estratégica da necessidade do País na produção desta fibra, da diversificação de cultivos que agreguem valor e racionalizem o capital e a mão-de-obra familiar nas propriedades rurais, hoje vistas como empresas. Além de verificar o interesse para o agronegócio.
Além da fibra, seu principal produto, o algodoeiro produz diversos subprodutos, que apresentam também grande importância econômica, destacando-se o línter, cerca de 10% da semente do algodão, o óleo bruto, média de 15,5% da semente, a torta, que é quase a metade da semente, além da casca e do resíduo (4,9% do total). Como cultura industrial, o algodão tem, na sua cadeia produtiva, diversos setores, que empregam e/ou fornecem ocupação, desde o campo até a indústria de confecção.
Para o desenvolvimento inicial da cultura do algodoeiro na Região Norte, há necessidade da pesquisa buscar tecnologias de cultivo adequadas, onde a escolha da cultivar correta assume grande importância para a maximização da produtividade.
Considerando que a recomendação de novas cultivares é uma das tecnologias que mais contribuem para os aumentos de produtividade e estabilidade de produção sem qualquer aumento de custos ao agricultor, procurou-se detectar materiais genéticos que apresentem características de elevada produtividade; arquitetura de planta adequada para colheita manual e mecânica; resistência e/ou tolerância às principais moléstias e com alta qualidade de fibra, conforme exigências das indústrias de descaroçamento e têxteis.
Para tanto, foram realizados ensaios para avaliação e recomendação de cultivares, o Ensaio Nacional de Variedades de Algodoeiro Herbáceo (Ensaio Nacional) e o Ensaio Regional de Variedades e Linhagens do Centro-Oeste e Noroeste Brasileiro (Ensaio Regional), cujo objetivo é o desenvolvimento de cultivares adequadas para a maximizar a produtividade com eficiência na cultura do algodoeiro em Roraima e no Amapá, realizado em conjunto com a Embrapa Algodão.
Os estudos foram conduzidos em áreas representativas da região de cultivo dos produtores. Áreas de lavrado já cultivado, com o intuito de estudar o comportamento de materiais. Os ensaios conduzidos no município de Mucajaí, em Roraima, representam fielmente algumas das condições encontradas nas propriedades rurais localizadas em áreas de mata, com lavouras de toco ou picadas abertas.
O solo predominante da região é o Latossolo Vermelho Amarelo e Latossolo Amarelo, com elevado teor de areia o que sob condições de cultivo mínimo, semeadura direta em pastagens, adubação e irrigação, possibilita a colheita de fibras com excelente qualidade.
No campo experimental Monte Cristo, no município de Boa Vista, três dos melhores materiais, superaram os 3.000 kg/ha, destacando-se as cultivares CNPA 7H e CNPA ITA 90 apresentaram boa produtividade (5.014 e 4.423 kg/ha, respectivamente), demonstrando a qualidade das condições edafoclimáticas para o algodoeiro. Já em Mucajaí a melhor produtividade foi obtida com o material BRS 201 com 2.453 kg/ha (164@). O ambiente de cerrado apresentou valor maior do que o de mata de transição em termos de produtividade.
A qualidade das fibras produzidas em Roraima é atestada pela uniformidade de cor e baixo teor de impurezas; pequena área da amostra ocupada por impurezas; Quantidade de partículas interpretadas como impurezas; bom comprimento e uniformidade da fibra; baixo Índice de fibras curtas; pela resistência; Alongamento à ruptura; Índice micronaire; percentagem de reflectância; Grau de amarelo; e Índice de fiabilidade.
O algodão colorido BRS 200 (marrom) cultivado em 2001, não apresentou bons resultados de produtividade (790 kg/ha) quando conduzido nas condições de Roraima, necessitando ainda de mais testes para no futuro serem indicados como alternativas promissoras de matéria-prima, para pequenos produtores e mesmo comunidades indígenas do estado de Roraima.
Nos cultivos realizados, observou-se a importância do ideotipo de planta para o sistema de produção utilizado pelo produtor, além disso, verificou-se a importância de um manejo do solo adequado anterior ao cultivo de algodão, devido esta planta ser exigente em fertilidade do solo. Os resultados de pesquisa obtidos pela Embrapa Roraima com o algodoeiro herbáceo no período de 2000 a 2002, possibilitam concluir que a cultura apresenta elevado potencial de rendimento no estado, principalmente quando as condições de manejo são favoráveis ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Maiores detalhes são encontrados nas publicações geradas no sistema Embrapa de pesquisa (Smiderle et al., 2002 e 2002a; Nascimento Junior et al., 200, 2001a, 2001b, 2000 e 2000a; Brito et at., 2000).
As duas cultivares indicadas para cultivo (CNPA 7H e CNPA ITA 90) são produtivas e, apresentam boas características fitotécnicas para o desenvolvimento da cultura do algodoeiro nas condições edafoclimáticas de Roraima. Para o cerrado do Amapá, os genótipos IAC 97/86, IPR 94, CNPA ITA 90 e EPAMIG LIÇA apresentaram melhores produtividades.

Por Oscar José Smiderle
Pesquisador da Embrapa Roraima
ojsmider@embrapa.br

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