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segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Brasil perde terreno na área de biotecnologia


BRASÍLIA - Por falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos, o Brasil pode perder a chance de liderar uma nova onda de crescimento mundial. Depois da fase de expansão da tecnologia digital, a indústria se prepara para a etapa da biotecnologia. Como o país detém um terço da biodiversidade do planeta, poderia capitanear o processo. No entanto, falta dinheiro para esses investimentos.
Financiamento para pesquisas iniciais até existe. O BNDES nunca investiu tanto: R$ 5,2 bilhões, mas que representam menos de 3% do total emprestado em 2013. Além disso, a demanda por recursos é muito maior. Os editais abertos do programa governamental Inova Empresa destinaram R$ 9,2 bi para projetos. A procura foi de R$ 17,4 bilhões.

Piora em ranking de inovação
A maior preocupação é a alta mortalidade de projetos na fase de testar se o produto pode ser feito em escala, a etapa mais arriscada e cara. Muitos empresários desistem aí. Em países como Alemanha e França, o Estado doa dinheiro nessa hora. Aqui no Brasil, apenas 4% dos recursos do Inova Empresa, que tem um orçamento de R$ 33 bilhões, são gastos com essa subvenção.
Assim, o país dá passos para trás em competitividade. Segundo o relatório mais recente do Fórum Econômico Mundial, o Brasil caiu da 39ª posição no ranking de inovação para o 46º lugar. Está atrás de todos os Brics, com exceção da Rússia, que é a 99ª colocada. Os Brics reúnem ainda Índia e China. O Brasil piorou em quase todos os quesitos: capacidade de inovar, qualidade das instituições de pesquisa, gastos empresarias em pesquisa e desenvolvimento (P&D), compras governamentais de produtos tecnológicos e registros de patentes.

— Estamos atrasados porque ainda não terminamos a agenda de desenvolvimento do século passado. O duplo desafio do Brasil é conciliar essa agenda com a agenda inovadora do século XXI — destaca o diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Mól.

O reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Carlos Pacheco, conta que a transição do laboratório à produção em escala é chamada de “vale da morte”. E a superação desse obstáculo é fundamental se o Brasil quiser ter um crescimento econômico sustentável:

— O principal motivo para se investir em inovação no Brasil é ganhar produtividade, é o que faz a economia crescer.

Enquanto no exterior algumas empresas já fazem roupas com tecido produzido por bactérias, o Brasil patina em biotecnologia. Não há marco legal de acesso à biodiversidade. Para pesquisar uma larva da Amazônia ou trabalhar com organismos geneticamente modificados, é preciso encarar uma romaria burocrática.
Não é possível patentear a maioria dos organismos vivos no Brasil. Por isso, há brasileiros que levam os centros de pesquisa para o exterior. Ou importam tecnologia. A Granbio, por exemplo, comprou no exterior a patente de leveduras geneticamente modificadas para fabricar etanol feito com palha e do bagaço de cana jogados fora depois da produção do álcool convencional.

O presidente da empresa, Bernardo Gradin, reconhece iniciativas do governo. Só tem elogios para a criação da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), mas reclama de problemas como o trâmite de papelada, alto custo das licenças e dos impostos. Diz que é difícil competir com os Estados Unidos, por exemplo, apesar de ter as melhores matérias-primas.

— Transformar ciência em tecnologia no Brasil é muito difícil — desabafa o empresário, que participa da 

Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).
Para piorar o cenário, boas inciativas não deslancham. A “sala de inovação”, criada pelo governo para evitar que um investidor estrangeiro desista de entrar no país por causa da burocracia, está às moscas, segundo os empresários.

O secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), Luiz Antônio Elias, contesta e diz que a sala já trouxe investimentos para o Brasil. Um exemplo é a criação de um centro de pesquisa da GE, com recursos de US$ 300 milhões, e outro da IBM, com o mesmo valor.

Estatal com pouco orçamento
Para o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Álvaro Prata, um dos problemas do Brasil ainda é a distância entre a produção do conhecimento científico e a indústria. Isso faz com que projetos que poderiam ter viabilidade econômica e gerar produtividade acabem restritos à academia.
— Esse é um processo relativamente recente no Brasil. A primeira dissertação de mestrado feita no país data dos anos 60. Já países como Japão, Alemanha ou Estados Unidos fortalecem o conhecimento científico e sua aplicação desde o século XIX.

Segundo Prata, o governo quer aumentar os recursos a fundo perdido nos projetos. Tanto que essa modalidade representa um terço das iniciativas da Embrapii. No entanto, o orçamento da estatal é apertado: apenas R$ 1,5 bilhão até 2018.
— O governo quer ser parceiro no risco — garante o secretário.


Gabriela Valente & Martha Beck, publicado em 




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