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segunda-feira, maio 22, 2017

RODRIGO CONSTANTINO: A carne é vermelha! Ou: Por que tanto sigilo com a JBS?



PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 13/11/2014

O BNDES adotou a política de seleção dos “campeões nacionais” durante a gestão de Luciano Coutinho, o mesmo que, na década de 1980, aplaudia a Lei da Informática. Os dois maiores beneficiados por tal visão nacionalista foram Eike Batista e o grupo JBS, cujos controladores são os irmãos Wesley e Joesley Batista.

Por isso brincam que é preciso ter Batista no sobrenome para conseguir bilhões de empréstimo a 4% ao ano, taxa nominal (ou seja, abaixo da inflação). Ambos receberam bilhões e bilhões subsidiados do governo, e até aporte de capital para sociedade direta.

O BNDESPar e a Caixa Econômica possuem, juntos, mais de um terço do capital votante da JBS. Além disso, o BNDES emprestou bilhões para a empresa, que saiu de um faturamento de poucos bilhões anos atrás para um conglomerado que fatura dezenas de bilhões hoje e possui ativos de quase R$ 80 bilhões.

Todos conhecem a empresa por meio de seu garoto-propaganda, o ator Tony Ramos, e sua marca mais famosa, a Friboi. Mas por trás dos panos há grande sigilo nesses empréstimos. O Tribunal de Contas da União (TCU) está, por isso mesmo, cobrando mais transparência, mas o presidente do BNDES resiste, e diz que isso seria quebra de sigilo bancário.

O relator do processo, ministro José Jorge, discorda: “Os recursos aplicados são públicos, a empresa aplicadora é pública, e a política orientadora é pública”. O BNDES talvez vá ao Supremo Tribunal Federal tentar se esquivar da cobrança do TCU. Por que esse sigilo todo?

A empresa de auditoria também não atesta conhecimento pleno dos fatos para dar seu parecer independente. A empresa BDO RCS Auditores Independentes diz em seu parecer no último balanço disponível:

Conduzimos nossa revisão de acordo com as normas brasileiras e internacionais de revisão de informações contábeis intermediárias (NBC TR 2410 – Revisão de informações contábeis intermediárias executada pelo auditor da Entidade e “ISRE 2410 – Review of interim financial information performed by the independent auditor of the entity”, respectivamente). Uma revisão de informações intermediárias consiste na realização de indagações, principalmente às pessoas responsáveis pelos assuntos financeiros e contábeis e na aplicação de procedimentos analíticos e de outros procedimentos de revisão. O alcance de uma revisão é significativamente menor do que o de uma auditoria conduzida de acordo com as normas de auditoria e, consequentemente, não nos permitiu obter segurança de que tomamos conhecimento de todos os assuntos significativos que poderiam ser identificados em uma auditoria. Portanto, não expressamos uma opinião de auditoria.

Resta saber o motivo disso. Por que não foi realizado um trabalho de auditoria mais profundo? Por que tanto mistério ronda a empresa?

Tudo fica mais bizarro quando lembramos que a JBS foi simplesmente a maior doadora de campanha para o PT e seus aliados, tendo distribuído quase R$ 200 milhões para vários candidatos da coligação. O quid pro quo salta aos olhos, não? É o retrato de nosso “capitalismo de laços” ou de compadres, em que o “amigo do rei” acaba se dando bem. As ações, à contramão do restante do mercado, espelham o relativo sucesso dos camaradas do poder.

Após tanta proximidade com o governo e tanta regalia, bem recompensada na montanha de recursos doada para as campanhas, circulam pelas redes sociais rumores de que Lulinha seria sócio oculto da empresa.

O filho do ex-presidente Lula saiu de monitor de zoológico para empresário milionário do ramo de tecnologia da noite para o dia, quando a Oi comprou sua empresa Gamecorp por R$ 5 milhões. Pouco depois o governo mudou a Lei Geral de Telecomunicações para que a mesma Oi pudesse comprar a Brasil Telecom. São muitas coincidências!

Se os boatos são verdadeiros ou não, eu não sei. Só sei que tudo é muito suspeito quando se trata dessa simbiose absurda entre grandes empresas e governo. Ainda mais com esse manto todo de sigilo cobrindo dados importantes da empresa e sua ligação com o BNDES. O TCU está mais do que certo em cobrar mais transparência. E a reação do BNDES torna tudo mais suspeito ainda.

A carne é mesmo vermelha. Rubro, escarlate, da cor do PT. E pode ser que esteja podre ainda por cima…

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